A diferença de preço entre os pneus nacionais e asiáticos incentivou a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) a apresentar ao atual governo a proposta de aumentar a alíquota de importação de pneus de 16% para 25%. Na visão da ANIP, existe uma disparidade entre os dois mercados. Dados da entidade, levantados com base nas informações de importação da Receita Federal, mostram que 50% dos pneus importados da Ásia entram no país com preços inferiores ao das matérias primas usadas no produto e 100% das importações estão abaixo do custo de produção industrial.
“Essa concorrência desleal entre os pneus nacionais e asiáticos está ameaçando empregos, coloca investimentos futuros em risco e traz desorganização da cadeia produtiva, afetando também produtores de borracha, de têxteis, de produtos químicos e de aço, insumos usados largamente na produção de pneus”, diz Klaus Curt Müller, presidente da ANIP.
A entrada indiscriminada de pneus importados está afetando duramente a indústria instalada no país. De 2017 para 2023 as vendas de pneus da indústria nacional, para passeio e carga, caíram 18%, enquanto as importações cresceram 117%. Quando comparamos os cinco primeiros meses de 2017 e de 2024, o mercado nacional encolheu 19% e as importações cresceram 229%, levando a indústria nacional aos anos pandêmicos da COVID-19.
“Este avanço se deu por conta dos preços desleais. Enquanto grandes mercados como EUA, Europa e México ergueram barreiras para proteger suas indústrias, o Brasil virou ponto de desova do produto vindo especialmente de países asiáticos”, diz Curt. Os efeitos já começam a ameaçar empregos. A indústria de pneus instalada no país emprega 32 mil trabalhadores diretos e 500 mil indiretos. Dos diretos, 2.500 funcionários já estão em suspensão ou redução da jornada de trabalho (lay-off), o que é preocupante, uma vez que a manutenção de emprego e renda é essencial para o crescimento do país.
“O Brasil levou muito tempo para construir uma cadeia industrial de pneus, o que é estratégico para um país de dimensão continental que utiliza intensamente o modal rodoviário, e agora todo este esforço está sob ameaça”, diz Curt. “Se medidas emergenciais não forem tomadas para garantir uma concorrência saudável corremos o risco de assistir a uma desindustrialização do setor”. O presidente da ANIP enfatiza que a entidade e os fabricantes não são contra as importações. “O que queremos é garantir condições isonômicas de competição e medidas para corrigir a concorrência desleal que se instalou no comércio internacional de pneus com o Brasil”.
Pneus nacionais e asiáticos: aumento de alíquota pode aumentar custos dos pneus
Entretanto, a Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP) destaca os impactos dessa decisão no território nacional. A proposta aguarda votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex), porém, já preocupa um dos setores primordiais para a economia brasileira, o Transporte Rodoviário de Cargas (TRC). Segundo estudo da ABIDIP, os pneus deverão ficar 25% mais caros, o que corroboraria um aumento de 6% nos custos do TRC. Atualmente, os pneus representam o segundo insumo mais caro do setor, atrás somente do combustível.
Marcel Zorzin, diretor operacional da Zorzin Logística – transportadora com manutenção própria –, pondera sobre as dificuldades que essa medida pode acarretar para as empresas: “Isso só permitirá ainda mais a elevação dos custos dentro de um setor que, historicamente, já sofre com as inflações. Quando colocamos todos esses números na planilha, acabamos tendo um prejuízo nas operações, já que não conseguimos repassar esse aumento nos fretes. Ou seja, mais uma inflação, principalmente por se tratar de um dos insumos que mais consumimos, podendo causar sérios problemas.”
A visão das empresas de transporte é buscar estratégias e soluções que não encareçam ainda mais os custos das operações. “Essa situação é semelhante ao transporte. Se aumentarmos o custo de peças, combustível, entre outras coisas, não conseguimos repassar, porque não tem como. Então, se o governo, as montadoras e as fabricantes estão forçando essa taxação, na minha visão está errado, porque vamos pagar mais caro no final das contas”, descreve Marcel.
Para Marcel, apesar dos apontamentos daqueles que desejam a taxação, é necessária outra visão: “Internamente, compramos pneus novos mensalmente. Fazemos um estudo, ou seja, uma pesquisa de marcas de preferência, que nos permite uma rodagem maior e de qualidade. Porém, com o aumento dos preços, tivemos que encontrar outras oportunidades que nos atendam. Então, por isso, acredito que a indústria brasileira precisa se reinventar, buscar formas de captar e atrair clientes internos para comercializarem seus produtos a preços acessíveis, principalmente para as empresas de transporte”, finaliza.
Fonte: Portal O Carreteiro