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EBA - Empresa Brasileira de Armazenamento, Redex e Operações Logísticas
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Em entrevista ao Guia Marítimo, professora da FECAP aponta os impactos no Brasil

Após oito anos do governo de Barack Obama, marcado por políticas econômicas voltadas para a recuperação norte-americana da crise de 2008, o presidente eleito Donald Trump que assumiu a Casa Branca esse mês já faz jus as propostas polêmicas que terão impactos na economia de outros países, inclusive no Brasil.

Essa semana Trump assinou a ordem executiva para iniciar a saída do país do Tratado de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) – em seu lugar, ele pretende fazer acordos bilaterais com alguns dos países para levar as indústrias aos Estados Unidos e, assim, gerar mais empregos.

Em entrevista concedida ao Guia Marítimo, a professora de Relações Internacionais da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), Daniela Marques Medeiros, comentou os impactos dessa decisão. De acordo com ela, a ação leva “a uma maior margem de manobra para o comércio internacional brasileiro, que havia ficado de fora dessa negociação que englobava 40% da economia mundial”. Mas alerta que isto não significa que irá aumentar a relação comercial especificamente com EUA. “Acredita-se que o Brasil continuará distante do radar norte-americano nos próximos anos”.

Leia a entrevista na íntegra:

Sobre a saída dos EUA do TPP, quais os benefícios para o Brasil?

A não efetivação do TPP pode gerar espaço para que o Mercosul negocie acordos para maior participação no comércio internacional. Países como México, Chile e Peru (dentro dos quais a assinatura do acordo não era consenso) também buscarão acordos bilaterais.

Os possíveis benefícios dessa saída do TPP consistem, portanto, em maior margem de manobra para o comércio internacional brasileiro, que havia ficado de fora dessa negociação que englobava 40% da economia mundial. Sabemos que o Brasil tem tomado medidas para abrir seu comércio internacional como estratégia para fazer frente à crise que assola o país. Todavia, isto não significa que irá aumentar a relação comercial especificamente com EUA, país que tende a aumentar os acordos bilaterais. Acredita-se que o Brasil continuará distante do radar norte-americano nos próximos anos. Depende do Brasil/ Mercosul aproveitar as oportunidades de negociação com outros países que não poderão mais contar com o acordo.

Qual o impacto do governo Trump na economia do Brasil?

Eu não afirmaria que o cenário é positivo. As medidas adotadas por Trump para recuperar a economia norte-americana nos oferecem, de antemão, três possíveis cenários em prejuízo para o Brasil: o aumento do protecionismo no comércio dos EUA (fechamento comercial), o possível aumento da taxa de juros do Banco Central como ocorreu nos anos 80, o que pode afastar investidores, e a possível taxação de produtos chineses, o que levaria a China a diminuir sua importação de commodities, afetando diretamente a economia brasileira.

Como essa saída pode afetar o comércio mundial?

De uma maneira mais ampla, os EUA de Trump dão o tom de um comércio mais protecionista e pautado em alguns acordos bilaterais. Considerando seu peso econômico e comercial, podemos nos deparar com uma queda no comércio global, o qual já se encontra em retração.

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Historicamente já tivemos outras ações marcantes quando os EUA se recusaram a fazer parte da Organização Internacional do Comércio criada pela Carta de Havana, em 1947. Em seu lugar estruturou-se o GATT, acordo por meio do qual se desenvolveu o comércio mundial até a criação da OMC em 1995. Pode ser que o comércio mundial se reorganize por meio de uma liderança Chinesa ou defina uma outra estratégia para sua recuperação frente à postura protecionista norte americana.

O fato é que na época do GATT, os EUA era o grande líder do acordo. Agora, fica difícil afirmar que o mesmo aconteceria com Trump. O contexto era outro e não estamos falando do comércio mundial, mas de um bloco regional específico, mas que, claro, afeta o todo.

Qual o impacto para a China?

Considerando o TPP, os analistas afirmam que o impacto para China pode ser positivo especialmente por afetar a confiança dos países asiáticos nos EUA. A China também negocia um acordo com diversos países na região que pode ampliar a participação comercial chinesa. Se pensarmos nas intenções de Trump para a China, sabemos que ele tem como interesse diminuir as importações Chineses nos EUA, o que pode afetar negativamente o Brasil.

Quais as expectativas para o mercado depois dessa notícia?

Depende do mercado. Se falarmos do mercado financeiro, das bolsas asiáticas especificamente, a primeira reação não foi tão intensa. Houve leves quedas, mas algumas até fecharam com ligeiras altas. As bolsas nos EUA tiveram uma pequena queda. Apesar da reação positiva do mercado logo após a posse, se for confirmada a postura protecionista do governo norte-americano, certamente sentiremos o impacto negativo no mercado financeiro.

O que o recém presidente eleito, fará com essa “herança” econômica e social deixada pelo seu antecessor?

De antemão, o presidente recém empossado já tomou medidas para fazer frente ao Obamacare e retirou-se do TPP. Essas duas medidas já denotam a postura conservadora e tendenciosa a afastar a influência social deixada por Obama.

A Reforma do Setor de Saúde foi um dos grandes feitos do antecessor. Em termos sociais, um dos grandes desafios será cumprir as promessas de campanha em relação aos imigrantes ilegais, especialmente latino. Trump também se mostra conservador em assuntos relacionados a gênero e inclusão.

Você acredita que a ideia de acordos bilaterais com alguns dos países para levar as indústrias aos Estados Unidos e, assim, gerar mais empregos, pode ser o caminho?

Poderia, mas não é efetivamente o que Trump vai aplicar. Os EUA voltar-se-ão para si. Ele vai agir no sentido de proteger a indústria local fazendo frente ao México e à China, dentre outros. Apesar de falar em acordos bilaterais, receio que os EUA voltarão a praticar um isolacionismo, o que é preocupante para o mercado internacional e a globalização como um todo.

Reformular o acordo do NAFTA pode reduzir o déficit do país?

Certamente uma das próximas medidas tomadas por Trump será a pressão em relação ao México e ao Canadá para revisar o acordo Nafta. A ideia é tornar os termos do acordo também favoráveis aos EUA, segundo o presidente. Essas atitudes fazem parte de um conjunto de medidas que juntas são o plano de Trump para cumprir sua promessa de campanha de reativar a indústria americana e barrar a ida de fábricas para o país do sul. A renegociação do Nafta é apenas uma frente dessa estratégia. É preciso lembrar que os republicanos com maioria no congresso apoiam o livre-comércio. Além disso, México e Canadá são importantes parceiros comerciais dos EUA. Não será uma negociação fácil.

Fonte da publicação Guia Marítimo

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